margaridas

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SER VERTICAL

Ser antes de tudo

o que se quer.

Não parecer o que se não é.

Ser afinal cada qual

quem é.

Ser sempre o que se deve ser.

Vertical.

Inteiro.

De pé.

Maria Emília Costa Moreira

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

OBSERVADORA X

A mala semipronta pela sexta vez.

É a antevéspera.

Pensar em tudo o que é necessário ficar em ordem

(camisas de noite, roupão, chinelos de quarto, produtos de higiene).


Depois, mais tarde... fechar a mala e sair.

As longas esperas, de sala em sala, no hospital.


E há sempre os que esperam

calados e sérios (como eu).

E os outros que nos obrigam a ouvir

um rosário de doenças, de misérias ou de grandezas.

Os que mostram inúmeros conhecimentos

hospitalares e afins,

e nos ajudam a queimar as horas.


Um doente acidentado na véspera do casamento, em F…

E todo o drama que se segue.

O casamento efectuado no ano seguinte

e com o sucesso devidamente comprovado

pelas fotos de dois rebentos.

A mais velha com os cabelos primorosamente enrolados

em longos canudos, tudo natural.

A mais nova uma beleza

muito asseadinha, apesar dos dois anitos.


Na sala de espera, um menino insuportável

que não pára nem se cala um minuto,

a dar nas vistas e nos ouvidos de toda a gente.

E os pais sorridentes e orgulhosos do rapaz.

Uns pais a precisarem de ensino.

Um menino que sapateia, calca e despenteia

acintosamente o pai

e chama estúpida à mãe.

- É muito vivo o Z!

-Ah! Este rapaz é muito esperto, muito mexido.

E os progenitores babados com tal procedimento

e nunca um gesto, uma correcção,

uma palavra de comedimento.

E o Z esfrega-se no chão,

abre e fecha as janelas, fala alto e desliza pelo corredor

no piso dos internamentos.


E eu penso.

Este tipo de pais e de meninos são cada vez mais frequentes.

Vão-nos parar às mãos e dão-nos cabo da paciência.

Quase trinta meninos por turma,

meninos-prodígio dos seus papás e mamãs.

Deste modo, sem princípios basilares,

com pais assim desajustados,

nesta sociedade onde tantos valores se esfumaram…

Que fazer? Como lidar?

Como ensinar quem não foi, desde o berço," moldado"?


Hospital da Prelada, 10 de Maio de 1999

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