margaridas

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SER VERTICAL

Ser antes de tudo

o que se quer.

Não parecer o que se não é.

Ser afinal cada qual

quem é.

Ser sempre o que se deve ser.

Vertical.

Inteiro.

De pé.

Maria Emília Costa Moreira

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terça-feira, 26 de março de 2013

GERÂNIO



( acrílico e pastel óleo s/ cartolina 65x50) rep


Gravado a acrílico e pastel
como quem cinzela
o granito,
o vaso rústico em papel,
evoca com pujança
a natureza floral
no seu grito de cor
e de seiva,
de linhas afiadas
como espadas,
de linhas redondas
vermelhas e macias
salpicadas de amor.
Todo o perfume da terra
se envolve sobre o suporte
delicado, com calor,
num belo quadro
sombreado,
onde se cruzam
infindáveis elementos
de sensual fulgor.



( foto  trabalhada no computador)

A quantos me honram com a vossa visita e amáveis comentários o meu abraço .
Farei uma breve paragem a partir de quinta-feira. Tanto eu com o meu computador, estamos com as"pilhas"gastas. 

UMA DOCE E ALEGRE PÁSCOA!

sexta-feira, 22 de março de 2013

POEMA PRIMAVERIL


 (acríliico s/ papel 61x41)


(pormenor do anterior)

Hoje, de manhãzinha,
Os pardais despertaram-me
Cantando no peitoril da janela
Odes de amor, numa euforia!
Tão grata lhes fiquei pela lembrança
Que em pétalas de rosa
Servi-lhes alimento – migalhas de poesia!

Hoje uma rola mansa
Poisou-me nos dedos
Como se de galhos de árvore se tratasse.
E a magnólia em frente
Desperta com a primeira folhagem verde
Particularmente mimosa e lança-as ao sol
À chuva, ao vento agreste –   tão receosa!
As flores sorriem no alto do seu trono
Vestido de azul e verde.
 E são tantas pelos campos fora
 Num delírio de arco-íris.

Pássaros e flores… uma duplicidade
Tão perfeita,
Pois que finalmente …depois de um Inverno sombrio,
A Primavera espreita!


(lápis de cera e aguarela s/ papel30x43)

Este  é um tema mil vezes glosado através dos tempos. Deixo um poema que tirei da gaveta, escrito na juventude (há quantos anos!) Nas pastas onde guardo muitos desenhos e pinturas, bem mais recentes,(1991 e seguintes), escolhi estes trabalhos um pouco "naifs" para acompanhar o poema.

sábado, 16 de março de 2013

NOITE SEM ESTRELAS




Ao cair da noite
estendo o lençol da preguiça
sobre a cama entreaberta.
Deixo que o meu corpo
se inunde da morna mansidão
da luz coada do candeeiro.
Como me aconchega a ternura
da chuva na vidraça!

É bom enroscar o corpo
e sentir as coxas sobre os seios,
abraçar as pernas dobradas,
o rosto a tocar os joelhos, em compressão.
Depois o desenrolar,
o distender o tronco,
os braços, as pernas,
os olhos cerrados a sentir, leve, a respiração.
Cubro-me com o lençol da preguiça
ao cair da noite.

Publicado no "jornal de Matosinhos"

domingo, 10 de março de 2013

VIAGEM SEM TEMPO





Hoje vou ter a estranha ousadia
de lançar-me desta minha Torre de Solidão
com coragem

Simplesmente com os braços abertos
o dorso curvado em arco e partir
em viagem

São tantos os segredos que a lua e o sol
me ensinaram nessa longa ida
foi com eles que aprendi
a inventar um corpo novo
e a sorrir para a vida

A  pintar de rubro todos os medronhos
de azul as noites baças de dor
de esperança a doença sem cor
e despertar num misto de lágrimas e sonhos

in  À Rédea Solta  de Maria Emília Costa Moreira

quinta-feira, 7 de março de 2013

AO JEITO DE EXORTAÇÃO


A minha homenagem a tanta mulher humilde do meu país, cuja vida foi um drama  terrível desde o nascimento até à morte...



                      
                 Ó mulher da minha terra
estás gasta e desfeita,
sedenta de ternura
pois a vida é dura
e os olhos e os ouvidos dos outros
se fecham à tua dor.
Estas farta de um trabalho
sempre igual e escravizante,
sem recompensa, sem elogio
e sentes na carne a fome, a sede, o frio
e estás só,
em casa, no campo, no rio.

Ó mulher da minha terra
de rosto duro empedernido,
de braços fortes, pernas rijas,
de ventre disforme e carne amolecida,
pois que vezes sem conta “andas de barriga”.
E o homem que dizes ser teu
e que nada tem de seu para te dar,
gasta no jogo, com” mulheres” e na taberna,
os magros tostões
com que a casa se governa.

Ó mulher da minha terra
estás só, esfarrapada e mísera,
sem dinheiro e sem carinho
e corroída pela tísica
e a sífilis e tudo o mais que existe
e que o “teu homem” te deu de presente.
És rica em filhos que deitas ao mundo
um em cada ano,
e sentes que a tua vida
foi feita de rude engano.
Mas persistes sem coragem para desfalecer,
até que um dia a morte
se lembre de te vir ver.

Ó mulher da minha terra
és resistente, pois enfrentas
o martírio da pobreza que é constante
e não tens coragem para dizer “Não”
aos que te exploram e oprimem.
És forte e trabalhas como um homem,
mas não te alimentas nem ganhas como tal.
Aí, então, deixas de ser sua igual,
passas a ser a fraca, a ser mulher.

Mulher criança
Menina mulher
Mulher mulher
Mulher e mãe

És tudo, encerras em ti
o que de mais belo a vida tem.

Ó mulher da minha terra
porque queres ignorar o teu valor,
porque consentes que te atirem à lama,
porque cruzas os braços,
porque calas a boca,
porque tapas os ouvidos,
porque cerras os dentes,
porque apertas os punhos
e aguentas?

Ó mulher da minha terra
acaso ignoras que é necessário lutar?
Que deves fazer a tua guerra?
Já basta de implorar.
Tens de conhecer os teus direitos
de mulher,
que a vida é preciso ser vivida
haja o que houver,
que a felicidade se constrói
lutando pela própria liberdade
e que só nela é possível
atingir a igualdade.

               Ó mulher da minha terra
deixa de ser a escrava,
a serva, a criada,
mulher para todo o serviço,
de permanecer na sombra, calada.
Anda, não fiques parada,
aprende a dizer “Não”
pois que a doutrina da mansidão,
da mulher objecto,
da mulher submissa,
já foi de há muito ultrapassada.
Tens de arrancar os véus da tua mente,
limpar as teias de aranha
e as patranhas religioso-supersticiosas
que te vêm impingindo
desde há séculos através da história.
Lança-as para trás,
deita-as fora.

Ó mulher da minha terra
acorda!
Sai desse sono incómodo e milenar,
desperta de uma hibernação patética,
dispõe-te a lutar.

Ó mulher da minha terra
luta por e para ti.
Ó mulher da minha terra
terei orgulho de ti!


Histórias verdadeiras que me foram relatadas pela minha mãe, outras que eu  própria conheci: jornaleiras( trabalhadoras rurais),peixeiras, leiteiras e lavadeiras, profissões típicas da aldeia onde nasci .
O poema foi escrito tinha eu 22 anos e guardei-o na gaveta. Por volta dos 35,dei-lhe uma revisão geral e voltou a hibernar...até hoje!

sexta-feira, 1 de março de 2013

RASGOS DE LOUCURA



Tempo de mais escondi
os meus versos na gaveta.
Por vergonha,
triste e cândida.

Guardei-os como quem guarda
um tesouro,
em solidão avara.

Céus e terra conjugados
abateram-se sobre mim
em triturações violentas.

Duas mortes anunciadas…lentas…
Embaciados os olhos.
Enegrecido o coração.

Depois a minha vez.
Visitou-me um mal dilacerante
e quase sucumbi.
Afogada no sal das lágrimas
o tempo foi passando…
Por fim amanheci.

Fiz terapia na cor e na poesia
com rasgos de loucura.
Aliviada a dor e a sede de ternura,
recusei esconder-me por mais tempo
como alguém que cava em vida
a própria sepultura.

 Maria Emília Costa Moreira