margaridas

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SER VERTICAL

Ser antes de tudo

o que se quer.

Não parecer o que se não é.

Ser afinal cada qual

quem é.

Ser sempre o que se deve ser.

Vertical.

Inteiro.

De pé.

Maria Emília Costa Moreira

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terça-feira, 31 de maio de 2011

MUTAÇÕES


Tu voltarás a ser o que eras de antes
Eu não sei se serei quem de antes era.”

Rodrigues Lobo

Morrem nos seres vegetais

as verduras refrescantes de Abril

E na mutação sucessiva

de cada estação

Substitui-se a cor a música o ar

transforma-se lentamente a tela de Renoir


Caem na calma agonia

de quem sabe que se renova

Enchendo de tons cálidos

e amarelentos a pintura do caminho

Em ritmo desatinado como quem foge

loucas rodopiam lembrando Van Gogh


Despem lentamente todos os ramos

e por fim nuas se ficam

No silêncio negro das noites sem lua

estendendo os braços pedindo clemência

No tempo rude de geada carpem

mais tarde palpitam e de novo se vestem


Matosinhos, 26 de Setembro de 1975

segunda-feira, 30 de maio de 2011

UM DILEMA

A noite foi descendo lavada

pela cortina de chuva persistente.

Encontro-me atada por laços de sangue

e como ave ferida no coração latejante,

busco razões para tal despautério.


Ou o mundo anda torto

envolto em lençóis de mistério,

ou sou eu que estou louca

sem conseguir entender atitudes

que me causam mágoas, a sério.


Um dilema! E um tanto inconformada

faço o que faço,

porque julgo estar certo.

Ou sigo arrastada

numa trajectória de falso conforto.


Com as veias e os ossos escaldando

e a pele em arrepios, medito.

Lavados por lágrimas de silêncio

os olhos baços,

a boca trémula engolindo estilhaços.

Faço que não oiço nem sinto,

faço que não vejo e minto.


O sol nasceu…fala-se de paz e amor.

Continuo na sombra à espera

que chegue…seja lá o que for.


Rio da Fonte, 31 de Dezembro de 2000

sábado, 28 de maio de 2011

O FOLCLORE MINHOTO

Visitei o museu do traje em Viana do Castelo, aí estão expostas todas as peças de vestuário usado pela gente desta região, desde o mais pobre ao mais rico.Valeu a pena, mas o que é bom verificar é que os usos e costumes de outros tempos continuam vivos... A prova é dada por estes grupos de jovens a dançar na praça. E como dançam e cantam!!! E que beleza e colorido nos trajes típicos das minhotas!!!

PASSEIO CULTURAL

Hoje visitei Viana do Castelo. Descobri que há sempre neste Portugal, muito para ver e descobrir.
A foto que publico acima é um pormenor da talha policromada da Igreja Paroquial de Darque, do séc.XVIII cujo padroeiro é S. Sebastião.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ESPERA

Da janela do duzentos e um

observo a natureza em sobressalto.

Está tudo apanhado de cinzento.

O céu , o asfalto,

e o meu corpo por dentro.


À direita existe um bom pedaço de verde:

relva, choupos espalhados e choronas,

quatro ciprestes muito juntos a um canto,

e nos espaços abertos,

dois arbustos vestidos de branco.

Uma sebe interrompida de onde a onde

dá entrada para o jardim.


Lá fora sopra um ventinho quente a trovoada

e um cheiro morno sobe até mim.

Do parque de estacionamento

vai-se ausentando o colorido ao fim da tarde.

Apenas as riscas paralelamente

brancas no cimento.

Restam três lampiões azuis piscando ao centro.

A noite desceu arrastando-se vagarosamente.


Amanhã é o meu dia.

Tudo pronto. Penso em minha mãe.

E busco alento para mais esta cirurgia.


Hospital da Prelada, 10 de Maio de 1999

quinta-feira, 26 de maio de 2011

OBSERVADORA X

A mala semipronta pela sexta vez.

É a antevéspera.

Pensar em tudo o que é necessário ficar em ordem

(camisas de noite, roupão, chinelos de quarto, produtos de higiene).


Depois, mais tarde... fechar a mala e sair.

As longas esperas, de sala em sala, no hospital.


E há sempre os que esperam

calados e sérios (como eu).

E os outros que nos obrigam a ouvir

um rosário de doenças, de misérias ou de grandezas.

Os que mostram inúmeros conhecimentos

hospitalares e afins,

e nos ajudam a queimar as horas.


Um doente acidentado na véspera do casamento, em F…

E todo o drama que se segue.

O casamento efectuado no ano seguinte

e com o sucesso devidamente comprovado

pelas fotos de dois rebentos.

A mais velha com os cabelos primorosamente enrolados

em longos canudos, tudo natural.

A mais nova uma beleza

muito asseadinha, apesar dos dois anitos.


Na sala de espera, um menino insuportável

que não pára nem se cala um minuto,

a dar nas vistas e nos ouvidos de toda a gente.

E os pais sorridentes e orgulhosos do rapaz.

Uns pais a precisarem de ensino.

Um menino que sapateia, calca e despenteia

acintosamente o pai

e chama estúpida à mãe.

- É muito vivo o Z!

-Ah! Este rapaz é muito esperto, muito mexido.

E os progenitores babados com tal procedimento

e nunca um gesto, uma correcção,

uma palavra de comedimento.

E o Z esfrega-se no chão,

abre e fecha as janelas, fala alto e desliza pelo corredor

no piso dos internamentos.


E eu penso.

Este tipo de pais e de meninos são cada vez mais frequentes.

Vão-nos parar às mãos e dão-nos cabo da paciência.

Quase trinta meninos por turma,

meninos-prodígio dos seus papás e mamãs.

Deste modo, sem princípios basilares,

com pais assim desajustados,

nesta sociedade onde tantos valores se esfumaram…

Que fazer? Como lidar?

Como ensinar quem não foi, desde o berço," moldado"?


Hospital da Prelada, 10 de Maio de 1999

terça-feira, 24 de maio de 2011

SINFONIA DO SILÊNCIO

Conservo a visão do teu rosto
no vento que passa,
nas mãos,guardo o teu perfume,
nos ouvidos, a música em que flutuámos
em ondulações harmoniosas.

De ti ficou o tom mármore leitoso da pele,
o calor das madrugadas
e a claridade do olhar,
onde a transparência azul
conduzia a nenhuma descoberta.

Eu sei que sempre me mantive
longe e esquiva,
apesar da proximidade sentida.

Guardo na memória
os momentos de graça infinda
e a sinfonia do silêncio
em que pairámos felizes.
Aposto na passagem leve do tempo.
Ele encarregar-se-á de esfumar
as minhas cicatrizes.

Leça da Palmeira,24/4/2006




segunda-feira, 23 de maio de 2011

NOITES DE INSÓNIA

O sono não vem como dantes,
manso e sorrateiro.
Batia à porta
ao cair na cama.

Hoje não encontro o lado certo
para adormecer.
Voltas e mais voltas,
pensamentos tristes,
lembranças ensombradas de lágrimas
que a mente teima em reter.

Alta vai a noite
e há um adormecer ligeiro,
e um acordar ainda de madrugada,
e um permanente cansaço
gravado no corpo inteiro.

Rio da Fonte, 9 de Setembro 2007

sábado, 21 de maio de 2011

VERSOS DO DESENGANO

Hoje, escrevo versos afiados como espinhos

a coroar o cinzento do cérebro cansado.


Hoje, escrevo versos como espadas

a tingir de rubro a terra queimada de maldade.


Hoje, escrevo versos como enxadas certeiras

nas machadadas sobre o trabalho de vidas inteiras.


Hoje, escrevo versos como lâminas aguçadas

contra o mundo onde o futuro se adivinha incerto.


Hoje, escrevo versos como o granito do caminho

por onde me arrasto penitente a clamar no deserto.


Rio da Fonte, 21 de Outubro de 05

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PRIMAVERA TARDIA

Abro os olhos à luz
que me incendeia.
Fecho o coração ao amor
que me inflama.
Abro-me toda à poesia
que me envolve e me possui.
Fecho-me em círculos sobre mim
e guardo do amor
a voraz chama.


Leça da Palmeira, 22/4/2006

terça-feira, 17 de maio de 2011

PENÉLOPE

Depois de cada dia

Árduo, rude e farto,

Repouso.

Dispo o pesado manto

− tecido letra a letra

com esferográfica −

Manto de poesia.

Arranco-o cada noite,

Retiro-o do corpo,

Dispo-o linha a linha.

Cada vez que o faço

Sinto num momento

Que a mente se alivia.

Mais feliz que Penélope,

Que desfaz à noite

O que fez de dia.


Rio da Fonte, 9 de Outubro de 1974

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A VIAGEM

Como os dias são diferentes

e as noites

as noites mais luzentes e mais quentes

no outro hemisfério

por onde vagueei só

completamente só sem amor

abrindo sulcos na carne suada

atirando ao rosto da noite

o gesto a palavra louca desesperada


Como são diferentes


Os dias nascem mais cedo

e as noites

as noites vêm sem pejo

enternecer os corações dos amantes

de verdade

as bocas que se beijam e rebeijam

as carícias que se trocam

os corpos que se enlaçam

à vontade


Como é diferente o céu estrelado

o cruzeiro do sul

e o mar azul verde e amarelado

e a música que se sente

bailar dentro da gente a compasso

desconcertado


Por entre a névoa dos anos

que passaram

e dos olhos menos firmes

que então te observaram

descortino olvido por vezes

entre a brumagem

lembro relembro hesito afiguro

o navio o navio

a viagem


Rio da Fonte, 25 de Outubro 1974

sábado, 14 de maio de 2011

HOMENAGEM A SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Dissemos adeus a Sophia,

no entanto ela virá cada dia:

ao lermos e relermos

A Menina do Mar”(com seu vestido de algas encarnadas,

cabelos verdes e olhos roxos)

e, que desse mar queria fugir

mas a Grande Raia a obrigou a ficar.


Dissemos adeus a Sophia,

que por alguns momentos

se ausentará para dormir a sesta.

Voltará sempre que na quinta,

Isabel e o amigo Anão passearem pela “Floresta”.


Dissemos adeus a Sophia,

enquanto ela se elevava no céu

procurando o seu Orfeu.

Refaremos todos os caminhos do “Cavaleiro da Dinamarca:”

por vales e rios, montanhas e cidades,

revisitaremos a arte de Giotto em Florença, a aquática Veneza

e o palácio do rico Mercador, de infinita beleza.


Dissemos adeus a Sophia,

mas ela continuará viva

no seu livro “Poesia”e em tantos outros

que espalhou: o “Dia do Mar”e a sua “Geografia”.


Dissemos adeus a Sophia,

visto que hoje partiu, voando pelo céu.

Porém, regressará todos os dias…ao abrirmos um livro seu.

- Até amanhã, Sophia!

Rio da Fonte, 3 de Julho de 04


Sophia de M. B. Andresen nasceu no Porto em 1919 e faleceu em Lisboa no ano de 2004.É sem sombra de dúvida um nome grande na literatura portuguesa. Escreveu poesia, contos infantis, ensaios e inúmeras traduções. O seu valor é reconhecido em Portugal, Espanha, França , Itália e Brasil. Recebeu numerosos prémios. Foi a primeira mulher a receber o Prémio Camões.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

TU FOSTE GRANDE

Máscara em gesso "Florbela Espanca" da autoria de Irene Vilar. A escultora nasceu em Matosinhos-1930; faleceu no Porto-2008.Foi uma notável escultora, mas também pintora e medalhista. As suas obras estão espalhadas por diversos países europeus, na África do Sul e Macau. A Câmara Municipal de Matosinhos possuí um valioso legado de Irene Vilar.

Quem cantou o mar e o sol luzente
A morte o luar os casais as vidas

Quem como tu dobrou as dores sofridas
Duas vezes mais em verso transparente

Quem como tu rainha em trono triste
Carpiu em "Livro de Mágoas" ternamente

Quem como tu procurou o amor com alma
- Tantas vezes fugidio - vivendo d'esperança somente

Quem caminhou na vida sempre ausente
Espalhando poesia sentida duma Florbela d'Alma

Tu foste alentejana perdida à beira-mar
Tu foste bela flor morta sem tempo
Tu foste aquela que viveu pr'amar
Tu foste grande grande em teu cantar

Rio da Fonte,30/5/1976

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894. Morre em Matosinhos a 8 de Dezembro de 1930. Viveu apenas 36 anos, mas deixou-nos sonetos belíssimos. Teve uma vida sentimental intensa e era uma mulher bastante ousada na sua época. Além de poetisa, foi contista, tradutora, escreveu um diário e colaborou em vários jornais e revistas.



terça-feira, 10 de maio de 2011

AO POETA EUGÉNIO DE ANDRADE

Na luz fria da manhã

multiplicam-se as pétalas amarelas,

almofadando os ninhos:

- Nasceu o Poeta!

- Nasceu o Poeta!

Anunciam, suspensos dos ramos,

os irrequietos passarinhos.


A quentura do sol ao meio-dia

limpa das folhas o orvalho.

Chilreiam as crianças no jardim:

- Nasceu o Poeta!

- Nasceu o Poeta!

E espalham a nova, com laivos de inocência,

numa dança de roda sem ter fim.


Meiga, aspergindo leite adoçado

com frutos silvestres,

a lua protectora espreita o casario:

- Viva o Poeta!

- Viva o Poeta!

Clamam as gaivotas sobrevoando as águas

espelhadas na foz do rio.

Foz do Douro, 19 de Janeiro de 05


Eugénio de Andrade, poeta português nascido em 19/1/1923 no Fundão, morre no Porto (Foz do Douro) em 2005. Os seus poemas estão cheios de musicalidade e cada palavra é usada com o máximo rigor. Escreveu poemas curtos, com uma aparente simplicidade, mas ricos de conteúdo. É autor de uma vasta obra traduzida em várias línguas. Recebeu inúmeros prémios em Portugal e no estrangeiro.

domingo, 8 de maio de 2011

A CECÍLIA MEIRELES

Correu terras, correu mundos,

rios e vales, cidades vivas.

E deixou marcas profundas

nas avenidas que vão dar

à Torre Maior das Poetisas.


Deve andar lá tão alta,

na campina abobadada dos céus,

qual “pastora das nuvens”,

tão longe e tão perto

dos sonhos meus.


Deve navegar entre “santos náuticos”,

dos mares gelados

aos mares de pérolas e corais,

protegendo a barca dos poetas

que cantam valores universais.

Rio da Fonte, 30 de Junho de 2001


Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901 e faleceu em 1964. Cursou a Escola Normal, sempre aliando a escrita ao estudo, concluiu formação superior e foi poetisa, conferencista, tradutora, colaboradora de vários jornais e pesquisadora do folclore brasileiro. Recebeu, postumamente, o Prémio Machado de Assis, pelo conjunto da sua obra em 1965, concedido pela Academia Brasileira de Letras.

sábado, 7 de maio de 2011

AO POETA

Manuel Bandeira

nome-poeta que sempre

recordarei


Trago nos ouvidos

o som dos teus versos

dos muitos que gravei


Na mente tenho

frequentemente a tua lira

Manuel Bandeira


Lira que é afinal do povo

e da tua “Estrela

da Vida Inteira”

Porto, 30 de Outubro de 1974


Manuel Bandeira, grande poeta, nascido no Recife. Brasil em 1886. A morte aconteceu em 1968. Cedo dá os primeiros passos na escrita, mas quando premiado pela Sociedade de Filipe D'Oliveira (5 contos de réis), escreveu: " Parece incrível, mas é verdade: aos 51 anos, nunca eu vira até aquela data tanto dinheiro em minha mão." Autor de uma vastíssima e diversificada obra: foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

VIAGEM DE IDA SEM VOLTA

Plagiando Manuel Bandeira

em a “Viagem Definitiva”

Um dia, não sei quando

ir-me-ei embora.

Outros ficarão.

E ficarão as aves cantando,

e as árvores verdejando,

e ficarão os jardins florindo,

os riachos correndo

e as fontes gotejando,

e as crianças sorrindo.

Até quando?


Um dia igual a outro dia.

As tardes ensolaradas

e as imensas noites estreladas.

O céu azul,

o mar imenso,

o infinito…


E ouvir-se-ão bem longe

os sinos do campanário.

E morrerão os que amei

e os que me amaram.

Os que detestei e me detestaram

e aqueles a quem muito simplesmente

não liguei,

e que por sua vez não me ligaram.


Mas novos seres surgirão

na minha aldeia.

E sempre as casas cheias

e sempre um dia como outro dia.

O meu corpo e o meu espírito

vagueiam neste momento

no pequeno jardim

de uma casa velha.


As heras formando sebe

enroscadas numa rede.

As rosa abrindo,

a um lado um cacto gordo, espinhoso,

e no canto oposto uma magnólia

abrindo as folha a medo.

O verde-branco do arbusto ao centro

e um poço redondo

caiado de branco.

Por cima um canteiro

com amores-perfeitos.

Em baixo as sécias, os jasmins,

os gladíolos.

Ao lado um vaso com craveiros

velhos secos e amarelos.

Atrás, verde e viçoso

um pé de glicínias.


E com um olhar nostálgico, penso:

que deixarei este sítio

que não é de sonho,

mas de realidade.

E ir-me-ei embora.

Para outro lugar

para uma cova funda,

sem luar

sem árvores

sem verde

sem céu azul

sem mar

sem jardins

sem canteiros, mas com flores

e sem água correndo.


Mas as aves permanecerão

cantando…

e as crianças sorrindo…

Até quando?

Rio da Fonte, 27 de Agosto de 1974

VIDAS

Punhais de vento
nas esquinas.

Sol ardendo de raiva
pelas madrugadas.

Riso de morte
da mulher da vida.

Caminho pejado de fragas
e de histórias fabricadas.

Vidas gastas e semeadas
de silêncios e de mágoas.

Rio da Fonte,1/1/1999

quinta-feira, 5 de maio de 2011

CONCRETO

Tivesse eu
Ninguém à minha espera
E a fortuna de outrem
Sem limites...

Tivesse eu
Aquilo que chegasse
Para voar... voar...
Ao sabor dos apetites

Entre o azul do céu
E o azul do mar...

Foto :Noruega parque Gustav Vigeland

ARTE DE VIVER

Um sorriso nos lábios
Seja alegre
Seja amargo
Um sorriso amarelo ou trocista
Enfadonho ou gaiato
Um sorriso sempre aceso
É preciso aprender a sorrir
Sorrir sempre
Desde muito cedo


Foto -Noruega parque Gustav Vigeland

quarta-feira, 4 de maio de 2011

MADRUGADA

Pela noite dentro
Os cães ladravam
sem parar...
Terríveis e raivosos
sem buscar alento.
E o sono tardava
na noite...
Prolongada e imensa
grávida de vento.

Rio da Fonte ,20/5/76

MARCAS DO TEMPO

O sol acaricia a natureza
lentamente a renascer das cinzas.

Do Inverno restou apenas
a erva queimada
e o tronco nu
da árvore tosca
e sem qualquer ninho.

A vida já gasta
nada e ninguém renova:
nem a pele enrugada,
nem o olhar sem um brilhozinho.
Não volta mais a leveza
breve de um pular
de gato de ramo em ramo.

O tempo é implacável.
Reserva à natureza
esse mistério fantástico
da renovação.

Resta-nos somente
dia a dia, ano a ano,
não contemplar o espelho
e ver passar a brisa,
arrastando os pés
como folhas secas pelo chão.

Leça da Palmeira,10 de Março 2003

terça-feira, 3 de maio de 2011

MAIO É UMA FESTA

Hoje é Maio!

Maio perfumado e embriagador,

Maio gaiato

Maio em flor,

Nos campos, nos jardins e nos pinhais.


Hoje é Maio!

E até o mar floriu

Junto aos rochedos,

E canta a canção dos seus segredos,

Aos longos e ternos areais.


Hoje é Maio!

Maio vestido de céu azul,

De urze, madressilva e de giesta.


Hoje é Maio!

Maio garrido e sensual,

Maio é uma festa!


Rio da Fonte, 3 de Maio de 1995


Para todos os amigos e visitantes do meu blog, que tal como eu tenham nascido no mês de Maio, dedico-lhes este poema desejando um feliz aniversário!!!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

AMBIÇÕES DESFEITAS

Vezes sem conta

ambicionei grandes coisas.

Eu também sou gente.

Por isso sonho e sonhei,

continuarei sem dúvida a sonhar,

a sonhar sempre.


Fiz-me pianista

de fama mundial.

Vi-me bailarina de cera,

nunca ninguém

vira outra igual.

Imaginei-me pintora

de mil quadros

extraordinários.

Fiz-me actriz, ginasta, cantora,

retratei-me como grande

como famosa escritora.


Friamente observo-me.

Sou apenas uma simples professora.

Rio da Fonte 1974

domingo, 1 de maio de 2011

CANTIGAS DE MAIO

Ó Maio florido

Ó Maio brejeiro,

Dos meses do ano

És tu o primeiro.


És tu o primeiro

Em tanta beleza,

És o mais garrido

Que há na natureza.


Ó Maio ó Maio

Tens encanto e cor,

Ai quem te não quer

Colher uma flor.


Colher uma flor

Ai quem te não quer.

Os outros te invejam

Ficas a saber.


Ó Maio ó Maio

Tu és um canteiro,

Dos meses do ano

És tu o primeiro.


Rio da Fonte, Maio de 1999