margaridas

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SER VERTICAL

Ser antes de tudo

o que se quer.

Não parecer o que se não é.

Ser afinal cada qual

quem é.

Ser sempre o que se deve ser.

Vertical.

Inteiro.

De pé.

Maria Emília Costa Moreira

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quinta-feira, 30 de junho de 2011

A RIBEIRA


No velho casario cinzento da beira-rio

Lodoso sujo gasto escuro

Um tanto misterioso e indolente

Vive – melhor diria –

Vegeta ali muita gente


Velho casario negro ribeirinho

As águas verde-escuro escorrem devagarinho


Pedras reluzentes

Calçadas ensebadas

Os miúdos seminus

Dormem no chão

Ao abrigo das arcadas


Casas da beira rio têm a pobreza a habitar

E as varandas coloridas com roupas a secar


Ruas estreitinhas e com escadinhas

Cor de verde –mar

E no ar o cheiro a podridão

Às portas nas esquinas

Vagueiam as tristes

Perdidas na escuridão


Rio da Fonte,17 de Outubro 1974

terça-feira, 28 de junho de 2011

JÁ NEM SEI

Eu já nem sei o que pense

da minha doce loucura.

Eu já nem sei o que faça

deste sonhar acordada.

Vivo nas asas do vento

sobre montanhas de penas

sem querer pensar em nada.


Eu já nem sei como vivo

tão tensa e ensimesmada.

Eu já nem sei o que sinto,

de dia falo sozinha

à noite voo deitada.

Eu já nem sei o que quero,

eu já nem sei se procuro

a tua boca cereja para a minha boca faminta,

o teu olhar aguado para a fogueira dos meus olhos,

ou elo dos teus braços em cadeia com os meus braços.


Eu já nem sei se me minto

dizendo-me que não desejo

o cruzar dos nossos passos.


Leça da Palmeira, 3 Outubro de 2005

domingo, 26 de junho de 2011

DAMA DE SILGAR

Nas areias duras de Silgar
Caminho.

De ponta a ponta
As areias vão-me acariciando os pés.

Trazem e levam conchas
Variadas e coloridas.

Nas areias duras de Silgar
Caminho,
Respiro,
Admiro o recorte da terra
E, no azul do céu
O beijo da nuvem na serra ao longe.

Rebentam foguetes a anunciar a festa
De Santa Rosalia.
A música invade a marginal.

Nas areias duras de Silgar
Faço a minha festa...
Caminho!

Sanxenxo, 4 Setembro 2008



sábado, 25 de junho de 2011

DESTRUIÇÃO

Vinte e uma horas quentes

De um anoitecer de Julho

E a serra a fumegar ao longe…


Vinte e duas horas quentes

E sonolentas de recolhimento,

E de repente o fogo alastra

Em flecha, milagrosamente…


Vinte e três horas quentes

E a noite aparece coroada de chamas,

A serra não adormece,

Crepita, maldita e o fogo enfurece…


Vinte e quatro horas

De destruição violenta.

Há a convulsão dos corpos queimados,

O soluçar da lua

E os gritos aflitos que a brisa em brasa

Espalha pelos prados...

7 de Julho de 2005

O calor chegou em força e, infelizmente os fogos, uma praga, começam a sua actividade destruidora, ateados muitos deles por mãos ocultas. Fonte de receitas para uns, desgraça total para muitos!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

VISITA A LÉON




Da visita a Léon, uma das grandes cidades da nossa vizinha Espanha, deixo o registo de apenas um vitral, dos muitos que podem ser admirados na grande Catedral (2ª foto). Há ainda o magnífico Hostal de San Marcos, um mosteiro que outrora abrigava peregrinos, hoje é um parador de luxo. Finalmente uma foto das varandas que embelezam a cidade, e são dezenas assim floridas!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

ASTORGA



Astorga é uma cidade magnífica. Tem uma imensa catedral, séc.XV e XVIII, com vários estilos: gótico, barroco e um altar renascentista. Possui ainda um museu com peças de arte sacra muito valiosas.
Em frente à catedral situa-se um palácio de conto de fadas cheio de janelinhas góticas e torrões, obra de Gaudi, dos finais do séc.XIX. Aí está instalado o "Museo de los Caminos".

quarta-feira, 22 de junho de 2011

PONFERRADA



Cidade muito pitoresca,com o castelo dos templários, antiga fortaleza para defesa da cidade na Idade Média, a rua do relógio e uma ruela com as varandas das casas todas floridas.

CASAS DA ALDEIA " CARUCEDO"


Muitas aldeias de Espanha, tal como em Portugal, estão votadas ao abandono e à desertificação.
Carucedo é um exemplo disto que acabo de escrever e dá pena ver tanta casa degradada, com as silvas e outras plantas daninhas a tomarem conta dos espaços. Triste realidade!!!
Achei a chaminé da casa muito original, por isso a partilho com quem der uma olhadela no meu blog.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"LAS MÉDULAS"



Visitei este monumento natural, declarado Património Mundial pela UNESCO. Localiza-se nos montes Aquilanos e junto ao rio Sil. Esta paisagem invulgar é resultante da exploração de ouro no tempo dos romanos. Calcula-se que tenham sido extraídos 800.000 kg deste metal precioso.

A GUERRA






"A Guerra"- 2003 (carvão S/ tela) de Graça Morais
Graça Morais, artista plástica portuguesa de renome internacional, nasceu em 1948 em Vieiro, Trás-os-Montes.
Vive e trabalha em Lisboa.

Tirei a foto na ARCO-Madrid ao lado da obra da artista, obra que me impressionou imenso e posteriormente deu origem ao poema que se segue.




Ela transporta no olhar

o espanto de existir

e a negritude da dor.


Ela vai insegura

com a morte nos braços

consumida de raiva e pavor.


Ela caminha solitária

na cinza dos tempos.

Ao colo, um filho engelhado,

empurrado para o poço

do mais fundo silêncio.


Ela permanece de coração chagado,

com muita lágrima engolida,

sem rumo, sem sonhos,

como uma morta-viva.


Rio da Fonte, 16 Abril 2006



sexta-feira, 17 de junho de 2011

NO REINO DAS PENEDIAS



As pedras

Na maciez do passar dos séculos

Ou na dureza da sua solidão,

São testemunhas silenciosas

Dos lugares onde repousam, quantas vezes,

Em equilíbrio instável,

Perscrutando a imensidão.

As pedras

Em simbiose com o céu,

Num recorte doce de fada

Ou num avantajado gnomo de granito,

Têm brilhos interiores

E cores no seu seio

De pura fascinação.


Rio da Fonte,17 Junho 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SAUDADES DA MADEIRA



Adeus ó Cabo Girão
Adeus terra adeus mar
Adeus Funchal
Adeus montes
Hei-de um dia cá voltar

Aeroporto da Madeira - Agosto 1976

Adeus ó Curral das Freiras
Adeus ó flores tão belas
Adeus penhascos
Adeus túnel
Da Ribeira das Janelas

Adeus ó Ribeira Brava
Adeus verdes variados
Adeus Seixal
Adeus Serra
Da Boca dos Namorados

Adeus Eira do Serrado
Adeus sol quente e risonho
Adeus ó Encumeada
Adeus ó ilha de sonho

Adeus ó picos tão altos
Adeus ó jardim sem par
Adeus ribeiras tão fundas
Hei-de um dia lá voltar

Rio da Fonte, Agosto 1976

segunda-feira, 13 de junho de 2011

COMO ANTIGAMENTE

Preciso ter a força

das águas que em vagas

se derramam sobre as rochas

desfazendo-se em alvos lençóis de linho.


Necessito ter a força

do vento que devasta a floresta,

voa sobre as montanhas

e faz os rios saltar dos seus leitos

varrendo tudo.


Careço ter força

para arrancar da mente

o teu sorriso mudo,

o teu jeito meio alegre

e timidamente displicente

de não querer dar-se a conhecer.


Devo ter a força

mais que suficiente

para continuar a viver

como antigamente.

Rio da Fonte, 1 de Novembro de 2005

domingo, 12 de junho de 2011

SANTOS POPULARES

Ó meu rico S. António,
Estou fartinha de esperar,
Arranjai-me um rapazinho,
Estou morta por me casar!

A cantar e a dançar
Eu passei a noite inteira.
Meu santinho dai-me forças,
P'ra eu saltar a fogueira.

Dos três santos populares
Não há como o S. João,
Venham todos para a rusga,
Tragam o arco e o balão!

É mesmo junto à fonte,
Que o meu amor me beija.
Abraça-me escondidinho
P'ra que S. João não veja!

Quero ir p'ró bailarico,
E minha mãe não arreda pé.
Santinho faz o milagre
Dela engraçar c'o meu Zé!
Atiraste-me orvalhado,
Cravo rubro de mil folhas.
- Só teu! - dizes no recado.
- Não vou em promessas tolas!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ADEUS AOS DEUSES

O planeta enche-se mais e mais
de fumos... de lixos... de ruídos...

Os deuses deixaram de habitá-lo
castigando os homens...

Feliz de Marte que sorri
aos novos hóspedes...
Até quando sorrirá?!


Rio da Fonte, Fevereiro 2011

LLORET DE MAR

A poesia existe

na longa caminhada matinal

por veredas sinuosas e de sonho.

As nuvens parecem brincar

escondendo o sol risonho.


A poesia existe

no mar azul-cinzento

ávido de luz

e no voo das gaivotas,

num beijar sem boca os rochedos

junto à praia

dançando entre as ilhotas.


A poesia existe

no chão ocre coberto de raízes,

no vento a espreitar a folhagem

esfarrapando nuvens em várias directrizes.

Além, recorta-se o castelo senhorial

Emergindo por entre verdes matizes.


Rio da Fonte, 4 de Outubro de 1999

quarta-feira, 8 de junho de 2011

É PROIBIDO FUMAR OU FOGUEAR

Zona famigerada

Completamente destruída, degradada.

Nuvens de fumo escurecem o céu,

Altos tubos vomitando chama quente.

Canos, tubos, tanques, lanternas, cisternas,

Canais e um cais e tantas coisas mais.


É proibido fumar ou foguear

Um mundo de gente

Mais parecendo cogumelos

Todos com capacetes amarelos,

Outros verdes ou vermelhos.

Teia de cores e de canos

Torcidos, retorcidos, vergados,

Emaranhados, não ao acaso, mas pensado.

Odor fedorento que desprende

O fumo sufocante.

Ar pesado, pegajoso, oleoso,

Que se sente a léguas de distância.


A noite dia parece

Na cidade incandescente,

Foco de vida ou de morte,

Dependendo de uma fuga de gás,

Tanto faz que seja cidla, buta, móbil

Ou aguarrás.


É proibido fumar ou foguear

A cada instante, por todo o lado,

Nunca é de mais lembrar.

A cidade poliglota, visçosa,

Escurecida do fumo e do petróleo,

É vivificada pela claridade vermelho-alaranjada

Da alta chama do gás e do óleo.

Com petróleo há dinheiro

- benefícios

Sem petróleo sem dinheiro

- prejuízos.

Tudo por causa do preto-óleo.

Bidões, boiões, camiões,

A verter gasolina, outros parafina

Ou a gorda petrolina.


E a cidade a abarrotar de operários,

Escriturários e administradores

E de fumo.

E em toda a parte se lê

É proibido fumar ou foguear

Nunca é de mais lembrar.


Rio da Fonte, Setembro 1974

terça-feira, 7 de junho de 2011

DIA ESCALDANTE

Tombava uma tarde quente de Junho
Afogada em suor e em melancolia,
Subia o calor da terra para o ar,
Exalando um odor com a chuva que caía.

A polvorenta estrada se enlameava,
As corriolas e as silvas rebrilhavam
Sob as bátegas que caiam firmemente,
Os pardais nos seus ninhos piavam.

Entre o sol e a chuva,
Entre manhãs secas e tardes molhadas,
Entre a terra e o mar, as nuvens e o ar,
Caminhava...caminhava...caminhava...

Rio da Fonte,10 de Junho 1976



segunda-feira, 6 de junho de 2011

AGOSTO EM TROLHAUGEN

Silenciosa e leve

Cai sobre o arvoredo,

Na casa rústica as vidraças pestanejam

Espelhando tudo.


Silenciosa e leve

Beija o solo e luzem as flores

Perfumando as veredas

Inspiradoras de Grieg.


Silenciosa e leve

Tomba do céu marchetado

De branco e cinza

Escurecendo o lago quase adormecido

Neste entardecer.


Silenciosa e leve

Sorrateira e mansa

Alinda o jardim.

Silenciosa e leve

Neste estio nórdico

Sinto a melodia da chuva

Que cai sobre mim.

Agosto 2007

domingo, 5 de junho de 2011

RELEMBRAR


Deixo-me levar

Sobre as águas tranquilas

Do fiorde dos sonhos,

Entre o azul celeste,

O verde das florestas e das águas

Mansamente enleado

Com o branco das nuvens e cascatas.


Espreito os retalhos de neve

No alto das montanhas.

Surpreendo o olhar

Em cada recanto,

Num delírio de paisagem

E não consigo abarcar

Grandeza tamanha.


Tanto recorte

Tanta verdura

Tanta cascata em véu

Tanto azul desmaiado

Tanta brancura

Tanta montanha

Tanto céu.


Leça da Palmeira, 27 de Setembro 2007

sábado, 4 de junho de 2011

REALIDADE DE SONHO


Busque-se alimento

no verde natural das heras alpinistas

e no colorido das flores

que alegram as bermas dos caminhos.


Aspire-se o perfume

das ervas que se oferecem

singularmente puras

nos recantos das serranias.


Ilumine-se o espírito

com a intensa luz solar

sob a copa das árvores.


Escute-se o bramido das ondas

ou o sereno deslizar dos riachos

cantando nas pedras

matando sedes.


Maravilhe-se todo o ser que se preza

com esta mesa farta

da mãe natureza.

Sanxenxo,6 de Setembro 2008

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CAVALGADA






Andam estrelas-éguas
povoando os meus sonhos...
e fogem num tropel desenfreado
do sol-corcel
passeando pelo prado
de celeste azulíneo arreado.






Matosinhos, 1/6/2001

Estudo (pastel seco s/ papel)




quarta-feira, 1 de junho de 2011

DIA DA CRIANÇA

“MAS O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS”

Fernando Pessoa

Cambaleante ainda,

Ergue os bracitos para o ar…

É difícil o equilíbrio

Fácil a queda,

Tem tanta graça no andar!


Palra, palra alegremente,

Sílabas sem sentido

E ri!

Quatro dentitos apenas…

A boquita, uma graça!

Diz “Olá” a toda a gente

E diz “Adeus” a quem passa.

Faz tantas habilidades!

Dança, canta…

Imita o comboio… o cão…

Uma mulher sem vida,

E até um avião.


Mas não fica por aí!

Catorze meses apenas

Narra a sua certidão.

Comove-se até às lágrimas

Ouvindo a mãe contar

A queda do João Ratão.


Leça da Palmeira, 19 Janeiro 1984

Escrevi este poema para a minha sobrinha quando ainda pequenita. É um poema simples, a história é real, e faz-me recordar tempos felizes.