A mala semipronta pela sexta vez.
É a antevéspera.
Pensar em tudo o que é necessário ficar em ordem
(camisas de noite, roupão, chinelos de quarto, produtos de higiene).
Depois, mais tarde... fechar a mala e sair.
As longas esperas, de sala em sala, no hospital.
E há sempre os que esperam
calados e sérios (como eu).
E os outros que nos obrigam a ouvir
um rosário de doenças, de misérias ou de grandezas.
Os que mostram inúmeros conhecimentos
hospitalares e afins,
e nos ajudam a queimar as horas.
Um doente acidentado na véspera do casamento, em F…
E todo o drama que se segue.
O casamento efectuado no ano seguinte
e com o sucesso devidamente comprovado
pelas fotos de dois rebentos.
A mais velha com os cabelos primorosamente enrolados
em longos canudos, tudo natural.
A mais nova uma beleza
muito asseadinha, apesar dos dois anitos.
Na sala de espera, um menino insuportável
que não pára nem se cala um minuto,
a dar nas vistas e nos ouvidos de toda a gente.
E os pais sorridentes e orgulhosos do rapaz.
Uns pais a precisarem de ensino.
Um menino que sapateia, calca e despenteia
acintosamente o pai
e chama estúpida à mãe.
- É muito vivo o Z!
-Ah! Este rapaz é muito esperto, muito mexido.
e nunca um gesto, uma correcção,
uma palavra de comedimento.
E o Z esfrega-se no chão,
abre e fecha as janelas, fala alto e desliza pelo corredor
no piso dos internamentos.
E eu penso.
Este tipo de pais e de meninos são cada vez mais frequentes.
Vão-nos parar às mãos e dão-nos cabo da paciência.
Quase trinta meninos por turma,
meninos-prodígio dos seus papás e mamãs.
Deste modo, sem princípios basilares,
com pais assim desajustados,
nesta sociedade onde tantos valores se esfumaram…
Que fazer? Como lidar?
Como ensinar quem não foi, desde o berço," moldado"?
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